quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O papel dos tristes

"É melhor ser alegre que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe" e bla, bla, bla.
Não que eu discorde. Pelo menos não totalmente. Ser feliz é ótimo e tudo o mais, mas felicidade é um negócio muito relativo, né? Muitas vezes eu já cometi o erro de me pegar valorando coisas que outras pessoas fazem e pensando: "não é possível que elas sejam felizes assim". Errado. As pessoas são felizes com coisas diferentes, independentemente da minha aprovação.
Não menos importante que a relatividade da felicidade, é o respeito à tristeza. Eu tenho um profundo respeito por pessoas tristes - desde as que passam por tristezas momentâneas àquelas que tem a tristeza como mal crônico.
Não fosse a tristeza, não teríamos belíssimos poemas.
Como outro dia, em que estava me lembrando do poema "Ainda uma vez, adeus" de Gonçalves Dias. Segundo meu professor de literatura do colégio essa poesia de 18 estrofes foi escrita com o sangue do próprio punho do poeta. O poema teria sido escrito após o reencontro do poeta com sua amada Ana Amélia, anos depois de deixá-la - já que não pudera se casar por conta do preconceito da família da noiva -, já casada com outro homem.
A primeira estrofe é mais ou menos assim:

"Enfim te vejo! - enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!"

Não sei dizer se a história é verdade - há quem diga que foi a Ana Amélia quem copiou o poema com sangue -, mas faz pensar de que tormentos a alma de Gonçalves Dias não estaria tomada, para criar algo tão bonito.
Ouso dizer que, se todos fossem felizes, nem haveria poesia.

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