quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

O papel dos tristes

"É melhor ser alegre que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe" e bla, bla, bla.
Não que eu discorde. Pelo menos não totalmente. Ser feliz é ótimo e tudo o mais, mas felicidade é um negócio muito relativo, né? Muitas vezes eu já cometi o erro de me pegar valorando coisas que outras pessoas fazem e pensando: "não é possível que elas sejam felizes assim". Errado. As pessoas são felizes com coisas diferentes, independentemente da minha aprovação.
Não menos importante que a relatividade da felicidade, é o respeito à tristeza. Eu tenho um profundo respeito por pessoas tristes - desde as que passam por tristezas momentâneas àquelas que tem a tristeza como mal crônico.
Não fosse a tristeza, não teríamos belíssimos poemas.
Como outro dia, em que estava me lembrando do poema "Ainda uma vez, adeus" de Gonçalves Dias. Segundo meu professor de literatura do colégio essa poesia de 18 estrofes foi escrita com o sangue do próprio punho do poeta. O poema teria sido escrito após o reencontro do poeta com sua amada Ana Amélia, anos depois de deixá-la - já que não pudera se casar por conta do preconceito da família da noiva -, já casada com outro homem.
A primeira estrofe é mais ou menos assim:

"Enfim te vejo! - enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!"

Não sei dizer se a história é verdade - há quem diga que foi a Ana Amélia quem copiou o poema com sangue -, mas faz pensar de que tormentos a alma de Gonçalves Dias não estaria tomada, para criar algo tão bonito.
Ouso dizer que, se todos fossem felizes, nem haveria poesia.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Elementar, meu caro Watson...


E ontem lá estava eu no cinema, com um certo atraso que credito à superlotação dos cinemas nas férias e à minha pouca paciência pra filas, para assistir o novo Sherlock Holmes. Ainda não tenho certeza se gostei ou não, mas seguem algumas impressões que ficaram sobre o filme.
Claro, Sherlock é sempre brilhante e perspicaz. Mas esse Sherlock parece dirigir sua acurácia mais para planejar golpes de boxe/kungfu/street fight do que para resolver o grande mistério. Em outras palavras, ele planeja a porrada e esbarra nas peças que montam a solução do problema maior.
O excesso de cenas de ação deixa os espectador um pouco alheio dos pequenos detalhes, que acabam sendo importantes para acompanhar o raciocínio do detetive. O grande lance dos livros de Sherlock Holmes é que permitiam ao leitor acompanhar o desenvolvimento de teorias, a busca por suspeitos e etc., até a grande epifania, em que o brilhante Sherlock revelava toda a trama, para delírio de Watson e do público geral. O filme deixa o espectador muito passivo... mas talvez seja só aquela perda natural de magia que ocorre quando um livro - ou seus personagens - é adaptado para o cinema.
Mas não deixa de ser curioso Holmes lutando boxe, Holmes fazendo parkour... pra ficar bem a cara do diretor Guy Richie só faltou, sei lá, Holmes jogando capoeira!
Outra coisa, me parece que os protagonistas Sherlock e Watson estão mais parecidos com House e Wilson do que estes com aqueles! Bom, que House e Wilson foram inspirados no detetive e no seu comparsa médico dos livros de Sir Arthur Conan Doyle todo mundo sabe. Entretanto, os dois protagonistas do filme importaram de forma tão marcante o comportamento e o relacionamento - meio doentio, diga-se de passagem - dos protagonistas da série de TV que fica até difícil saber quem copiou quem! E antes que alguém surte, com "meio doentio" eu não quis dizer gay. Até porque, não, eu não acho que Sherlock e Watson sejam gays (assim como não acho que House e Wilson o sejam). Meio doentio é só pouco saudável e co-dependente mesmo...
No mais... senti falta da clássica frase "Elementar, meu caro Watson". E me convenci a comprar um colete - pessoas espertas usam colete!

De qualquer forma, recomendo. Bom entretenimento pra uma tarde de domingo!